Obsessão pelo time do coração pode trazer problemas à saúde e ao cotidiano
A paixão pelo futebol é parte do DNA do brasileiro
O fim de ano no Brasil marca também o final de temporada do esporte mais popular, o futebol. Entre as decisões de Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil (os maiores torneios nacionais) e Libertadores (a maior competição sul-americana), podemos questionar: o fanatismo por futebol é saudável?
De acordo com um estudo encomendado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e realizada pelo instituto Nexus Pesquisas em 2025, 78% dos entrevistados declararam torcer para algum clube no Brasil.
Segundo a mesma pesquisa, o futebol também está presente no cotidiano de grande parte da população: 73% dos entrevistados afirmaram acompanhar as partidas, enquanto 47% dizem assistir ao menos um jogo por semana.
Nesse contexto, o futebol, para o brasileiro, é mais do que apenas um esporte; é uma linguagem, identidade e laço social. Porém, existe uma linha tênue entre uma paixão saudável pelo clube do coração e o fanatismo.
Neste conteúdo, vamos falar mais sobre as consequências em ser fanático pelo tema e como isso pode afetar inclusive a saúde mental e física. Continue a leitura!
Quando o amor pelo time se torna fanatismo?
Torcer faz bem. Acompanha a vida, gera alegria, cria vínculos e até ajuda na sensação de pertencimento. O problema surge quando a paixão pelo futebol passa a ocupar um espaço desproporcional na rotina, nas emoções e na forma como a pessoa lida com o mundo ao redor.
Apesar de o futebol estar presente no cotidiano da maior parte da população brasileira, a obsessão cega pelo time não pertence a todos os torcedores. De acordo com a pesquisa O Maior Raio‑X do Torcedor, realizada em 2024, apenas cerca de 30% dos torcedores se consideram “fanáticos”. Desses, 35% são homens e 26% são mulheres.
O comportamento fanático começa a aparecer quando o torcedor:
- Coloca o time acima de responsabilidades pessoais, familiares e profissionais
- Sente ansiedade intensa antes das partidas, a ponto de atrapalhar o dia
- Tem seu humor completamente dominado pelo resultado dos jogos
- Demonstra agressividade verbal ou física ao discutir futebol
- Entra em brigas, provocações ou situações de violência
- Rompe amizades, evita convívio ou cria conflitos dentro da família por causa de rivalidades
- Não aceita opiniões diferentes e se sente pessoalmente atacado quando seu clube é criticado
- Acompanha compulsivamente jogos, debates, notícias, redes sociais e estatísticas, sem conseguir “desligar”
Muitas vezes, o fanatismo surge como uma forma de identidade substituta: o time funciona como fonte de autoestima, compensação emocional ou sensação de poder. Quando a pessoa passa por inseguranças, frustrações ou conflitos pessoais, pode transferir tudo para o universo do futebol, vivendo vitórias e derrotas como se fossem dela própria.
Outro ponto é que o fanatismo geralmente não se manifesta da noite para o dia. Ele se constrói aos poucos, influenciado por fatores como:
- Histórico familiar de torcedores muito intensos
- Participação em torcidas organizadas com forte sensação de pertencimento
- Ambientes competitivos ou agressivos
- Episódios de estresse emocional em outras áreas da vida
Fanatismo por futebol pode ser considerado uma doença?
O fanatismo por futebol, por si só, não é classificado oficialmente como doença em manuais de psiquiatria ou psicologia, como o DSM-5 ou a CID-11. No entanto, isso não significa que ele não possa gerar adoecimento mental ou estar associado a transtornos já existentes, como:
- Transtorno explosivo intermitente
- Problemas de autoestima
Em alguns casos, o fanatismo funciona como manifestação externa desses transtornos. Ou seja, o time é apenas o canal por onde a pessoa expressa desequilíbrios emocionais mais profundos.
Assim como acontece com jogos eletrônicos, treino excessivo, religião ou trabalho, o futebol muitas vezes se transforma em um comportamento de dependência quando a pessoa perde o controle sobre seus impulsos, suas prioridades e sua vida emocional.
Psicólogos classificam isso como um comportamento disfuncional, caracterizado por:
- Pensamento rígido
- Reação exagerada
- Visão de mundo polarizada (“nós contra eles”)
- Idealização extrema
- Falta de flexibilidade emocional
- Dificuldade em perceber limites
A ciência já sabe que a paixão intensa por um time ativa áreas cerebrais ligadas à recompensa, gerando sensações parecidas com as de dependência emocional. Em pessoas mais vulneráveis, gera comportamentos obsessivos ou impulsivos.
Impactos na saúde mental e física: consequências em ser fanático
O fanatismo por futebol não afeta apenas a mente. Ele pode trazer impactos reais para a saúde física, o comportamento e a convivência social. A seguir, alguns dos efeitos mais comuns:
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Ansiedade intensa e sofrimento emocional
Torcedores fanáticos experimentam taquicardia, insônia, irritabilidade, tensão muscular, suor excessivo e crise de estresse em dias de jogo.
A expectativa antes das partidas tende a causar sofrimento semelhante ao vivenciado em quadros de ansiedade generalizada.
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Oscilações de humor e dependência emocional
A vida emocional do fanático fica condicionada ao desempenho do clube: vitória é sinônimo de euforia, enquanto a derrota está relacionada a irritação, tristeza ou desânimo.
Essa montanha-russa emocional prejudica autoestima, concentração e relação com outras pessoas.
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Aumento da agressividade
Por não tolerar frustração ou opiniões contrárias, o fanático tende a brigar, provocar, entrar em discussões em redes sociais e reagir com violência verbal ou física.
Em casos extremos, isso leva a comportamentos perigosos, especialmente em ambientes de torcida organizada.
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Isolamento social
Muitas pessoas se afastam de torcedores fanáticos por medo de conflitos ou saturação de conversas repetitivas, o que muitas vezes causa solidão, dificuldades de relacionamento, rupturas familiares e problemas de trabalho.
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Sedentarismo ou rotina desregulada
O indivíduo passa horas diante da TV, celular ou debates esportivos e deixa de dormir bem, se alimentar de forma equilibrada, praticar atividade física e manter lazer diversificado.
Esse estilo de vida prejudica diretamente a saúde física.
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Problemas cardíacos em situações de estresse
Eventos esportivos já foram associados a aumento de emergências cardíacas em torcedores extremamente ansiosos, especialmente em jogos decisivos.
O estresse e a emoção intensa durante o jogo desencadeiam respostas fisiológicas, como aumento de adrenalina e cortisol, e elevação da pressão arterial e da frequência cardíaca, que por sua vez sobrecarregam o sistema cardiovascular.
Um estudo da Universidade de Munique, na Alemanha, apontou que o risco de eventos cardíacos graves, como infartos, pode triplicar em torcedores nervosos durante as partidas.
No Brasil, uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP) indicou um aumento de 4% a 8% em casos de infarto nos dias de jogos da seleção pela Copa do Mundo.
Muitos torcedores associam futebol a bebidas, o que aumenta riscos de comportamentos impulsivos, acidentes, brigas, intoxicação e dependência.
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Prejuízos financeiros
Torcedores fanáticos podem gastar além do que o bolso permite com ingressos, viagens, camisas, apostas esportivas, mensalidades de TV e pacotes esportivos.
A ansiedade de assistir, consumir ou estar próximo ao clube de coração leva a decisões precipitadas, causando endividamento.
Formas de manter a paixão de maneira equilibrada: como torcer com saúde?
A boa notícia é que é totalmente possível amar um time sem perder o controle. O futebol consegue ser lazer, identidade, alegria, conexão e emoção, desde que vivido com equilíbrio.
Para isso, é importante estabelecer limites claros: acompanhar jogos, notícias e debates é saudável, desde que isso não ocupe todo o tempo livre nem interfira em responsabilidades pessoais ou profissionais.
Diversificar interesses também ajuda a criar um equilíbrio emocional, já que quando outras áreas da vida trazem prazer, o futebol deixa de ser a única fonte de satisfação e o torcedor passa a lidar melhor com vitórias e derrotas.
Além disso, aprender a aceitar os resultados do time sem transformar cada partida em sofrimento profundo é um passo fundamental para quem deseja torcer com leveza.
Outra forma de manter a relação saudável é evitar conteúdos que promovem rivalidade agressiva ou estimulam conflitos, optando por ambientes que valorizem respeito e convivência pacífica.
Cuidar do corpo também faz diferença: manter alimentação leve, hidratar-se e praticar técnicas de respiração em momentos de tensão ajuda a equilibrar as emoções.
Conversar sobre sentimentos e percepções com pessoas de confiança contribui para identificar exageros e recuperar o equilíbrio, enquanto buscar apoio psicológico é essencial quando o futebol começa a afetar o humor, os relacionamentos ou a saúde mental.
Torcer com paixão é maravilhoso, mas o amor pelo time não deve ultrapassar o limite do bem-estar!
Referências

Escrito por Vale Saúde
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